Título
Metafísicas do olho

Gênero
Poesia

Autor
Cesar Kiraly

Capa
Emilio Scanavino

Páginas
68

Descrição
Estando no lugar da filosofia, que aqui prefiro dizer pensamento como já disse antes, Kiraly constrói uma paralaxe – no sentido proposto por pensadores contemporâneos como Slavoj Žižek (A visão em paralaxe) – em que se agrupam as várias dimensões ou ângulos de visão: entre eles, a política, a artística, a filosófica, a simbólica, a estética, todas, como maneiras de se chegar a um conjunto de dizeres ou uma conformação das potências do olho e do gesto da visão. O que quero dizer é que a construção do pensamento do ensaísta obedece ao longo de seu desenvolvimento, como notará o leitor, a uma mudança de posição proposital como se olhasse plano a plano o mesmo objeto e pudesse extrair dele, na diversidade dos ângulos gestados, uma visão mais global sobre aquilo que se propõe falar.

A reflexão dá ao tema tratado uma teia de sentidos a fim de dar ao leitor uma leitura mais encorpada sobre os termos discutidos. Temos a sensação de está olhando um olhar sobre o olhar. Este texto de Kiraly é ele também um fenômeno óptico; o seu método deixa-se influenciar pelo objeto, mas não chega a ser tragado por ele, chega isto sim a se constituir numa ousada aventura. Se a princípio, o pensador para para pensar sobre o que constitui a unidade do gesto da visão, por outro ele compreende que essa unidade é dispersa e que ele só pode alcançar é seu espectro – combinado aqui na tentativa de unir a força do pensamento, o sentido mais puro do que está sendo pensado com a representação linguística. O que se reivindica aqui é a necessidade de se falar numa instituição do olho, compreendendo que através dela se possa descobrir outras vias mais significativas de elaboração do pensamento sem se valer da necessidade da repetição.




Título
Espuma das palavras

Gênero
Poesia

Autor
Rui Santos

Capa e ilustrações
Diane Sbardelotto

Páginas
74

Outras informações
O opúsculo foi apresentado como encarte para a 10ª edição da Revista 7faces publicada em janeiro de 2015. 

Descrição

“Espuma das palavras traz a relevo o exercício da força imaginativa do escritor como produto da relação com os acontecimentos de sua própria vida, das leituras e da aproximação que mantém com os principais temas de seu tempo” (Pedro Fernandes)


Título
Allen Ginsberg. Poemas

Gênero
Poesia

Autor
Allen Ginsberg. Tradução de Cesar Kiraly

Capa e ilustrações
Helton Solto

Páginas
118

Descrição
“pra quê mais ginsberg? pra quem mais ginsberg? ora, pra todos. pros poetas, é claro, que já estão lá atrás do sumo que mais importa nessa clareira da linguagem; mas é pra todos, sobretudo para os piores adictos” 
(Guilherme Gontijo Flores – prefácio a Allen Ginsberg: poemas)

Em agosto de 2014, foi publicada uma edição do Caderno-revista 7faces em homenagem a Allen Ginsberg, um dos nomes que melhor representam a chamada Beat Generation, movimento que, da parceria entre o poeta e Jack Kerouac, William Burroughs e muitos outros, ficou conhecido por introduzir na cena literária e cultural estadunidense uma série de rupturas – desde a linguagem às formas de rebelar-se contra o status quo social capitalista.

Nesse ínterim, as consequências impactantes que obras como Howl and other poems causaram entre os leitores de seu tempo somam-se às da formação de outros lugares ideológicos e de reivindicação político-social com temas, muitas vezes, bem à frente de seu tempo. É costume dizer que à Beat Generation – entre outros movimentos estético-culturais – devemos grande parte da chama que ainda resta acesa entre nós do chamado espírito rebelde, calcado no apagamento das dicotomias tão alimentadas pelo Ocidente.

Allen Ginsberg: poemas é uma antologia organizada por Cesar Kiraly cuja importância se exibe desde a base de criação de um número do Caderno-revista 7faces sobre a obra poética do estadunidense. Ela expressa algumas das peças que assinalam o rico trabalho de Ginsberg no campo da poesia e é uma amostra significativa para algumas dessas novas apostas encetadas pelos da sua geração: a liberdade criativa, a irreverência, a ironia, a relação direta entre o poético com as vivências, a exposição plena do corpo e das sexualidades subjugadas pelo status quo, a fuga do lugar-comum do bom-mocismo da sociedade, o revés do espírito hipócrita, a quebra das polarizações extremas num ambiente político marcado por um e outro grupo somente, a abertura de perspectivas outras sobre a relação com aspectos concernentes a existência – a relação com o outro, o amor, a morte etc. –, a saída definitiva de um universo de abstração formal para cantar a existência em seu pleno vigor, enfim, há aí uma pequena dose de tudo isso. Um mosaico, portanto, multifacetado de um poeta, de sua obra e do seu tempo. Ou uma porta de entrada no mundo-Ginsberg.

As traduções são também de Cesar Kiraly, quem recolheu poemas desde o mais famoso livro de Allen Ginsberg, Howl, a outros títulos, como KaddishReality SandwichesThe Fall of America e Mind Breaths. É, portanto, outro ponto de um projeto cujas primeiras peças deu forma e foram apresentadas na edição 9 do Caderno-revista 7faces e ampliou-se com a leitura pública realizada no Rio de Janeiro no mesmo ano de 2014. Durante pelo menos dois anos o tradutor andou burilando esses versos enfeixados pela apresentação de Guilherme Gontijo Flores e a construção imagética de Helton Solto, quem projetou o conjunto de ilustrações que integram a presente edição. Um rito à altura do que significa a obra literária de Ginsberg. 




Título
Rol da feira

Gênero
Poesia

Autor
Márcio de Lima Dantas

Capa
Joaquín Torres García

Páginas
40

Outras informações
O e-book foi apresentado como encarte para a 5.ª edição da Revista 7faces publicada em agosto de 2012.

Descrição
O que se reaviva nesse último livro é algo que já havia observado em Xerófilo, publicação indexada na terceira edição do caderno-revista 7faces: a palavra como instância transfigurada. Não sei se notei com esses termos, mas façamos de conta que tudo que eu tive oportunidade de dizer sobre o livro na época em que ele apareceu está resumido nessa ideia. A operação ensaiada pelo poeta é processo muito sofisticado, mais sofisticado do que a reinvenção do código linguístico por meio da introdução de novos vocábulos, porque nele é a finesse do sentido o que é reinventado. Ao contrário dos poetas céticos que apostaram por longa data no “ceticismo da palavra”, para recuperar os termos de Hofmannsthal, Márcio de Lima Dantas crê na palavra como peça na condução do leitor à produção do estado poético.

Em Rol da feira, já desde o título e a sequência de poemas como “Arma branca”, “Galo”, “Cigana”, “Gazo”, “Cacimba de areia”, “Sinuca”, “Casa sertaneja”, e há outros, mas bastam estes, apesar de rememorar nomes, tipos, o leitor não encontrará neles uma evocação realista – com toda implicação assumida entre o termo e o objeto –, mas uma apropriação dos sentidos que nomes e tipos possam evocar para sua ressemantização. Arrisco-me a dizer: o poeta se apoia na vida e nas palavras e entende o gesto poético como uma ficção deduzida da observação. E se descartei os subterfúgios da complexa relação entre termo e objeto, descarto também os sinônimos de falsificação, fraude ou de mentira para a ficção. Prefiro crer que o trabalho aqui é o alargar as fronteiras tão precárias da realidade e de novas maneiras de dizer as coisas. Noutras palavras, a transfiguração evocada aqui não se guia por além de, mas pela pequenez da universalidade, alimentada integralmente pelos resquícios da palavra. Tem seu nascimento, sua existência, sua movimentação na sofisticada relação desenhada entre o eu-poético e a ‘arma branca’; “No embate, um/ só corpo emana”, um poema que lembrando o que vemos reinventa suas fronteiras.


Pedro Fernandes. “Para ler Rol da feira, de Márcio de Lima Dantas”. In: caderno Domingo / Jornal De Fato. Mossoró, 12 de agosto de 2012, p.13.