Título
Um ensaio
itinerante para ler José Saramago - paisagens
Gênero
Ensaio
Autor
Pedro
Fernandes de Oliveira Neto
Capa
Pedro
Fernandes de Oliveira Neto
Páginas
102
Outras
informações
O ensaio foi
apresentado como encarte para a edição Variações de um mesmo tom -
diálogos sobre a poesia de José Saramago e inclui entrevista exclusiva com
o professor Horácio Costa
Descrição
Não foi de
heterônimos como Pessoa, que foi único em cada um dos vários, mas disse ser a
soma de todas as suas personagens. Não alçou a qualidade de Super-Camões, como
Pessoa ao encontrar Portugal para encontrar a língua, Mensagem, mas sucede e
ladeia Camões, e sucede e ladeia Pessoa, como escritor, que se sentiu
responsável pela sua língua, por pensar o destino do povo Português, lançando
jangada de pedra ao mar, assumindo o posto de Ricardo Reis, a vagar por
Portugal, a procurar quê de povo, a encontrar quê de gente, ao enxergar todos
cegos, e entregar a uma mulher, a mulher do médico, olhos para vê o que não se
via e coragem, coragem de um povo que levantado do chão, cumpre o seu destino
de ser filho, e filho, pai, de pai, avô, numa ciranda de povo, que se é
continuidade e se é continuísmo, como foi continuidade e continuísmo de um avô
analfabeto e criador de porcos, fiel ao seu ofício a cumprir destino, como
certo oleiro que ver recusado pelo centro a matéria de trabalho de suas mãos,
mãos que também, ao correr teclas, postaram um não reescrevendo a história da
presença moura em Lisboa, postando imagens, certo de que, se pintura, há o
momento em que não comporta mais pinceladas, mas se palavras, podem
prolongar-se ao infinito, lição de manual, de pintura, de caligrafia, de viagem
que pela geografia dos mitos, das crenças, da geografia, viagem do viajante que
passeia aqui e acolá, a ermo, armado de humor, armado de ironia, por temas, e
por espaços quando viajante às margens do Douro vê que a mistura das águas e o
ir e vir dos peixes não responde a fronteiras, fronteiras que pode haver entre
si e si mesmo, quando duplicado, cópia de si mesmo, no tempo que viu todas as
reproduções desfazer o insubstituível, e que não calou caderno porque nele
expôs pensamentos acerca das pessoas e das coisas pelos anos, observador de
Lanzarote, que antes de lá está e por razão de lá ir, contou de Cristo e o
Evangelho, e na barca presenciou entre o Deus pai e o Cristo filho a conversa
de todos os tempos enquanto Caim viajava tempos por sina e imposição deste
mesmo Deus, pois este nome, José, de este também outro nome, Saramago, que fez
da escrita, da devoção à língua, do senso de ser português, e de ser português,
ser Camões, ser Pessoa, ser Portugal, que cumpriu seu destino de achar o mundo
em caravelas, procurou levar Portugal a cumprir seu destino pela língua em
palavras, fiou ser estes todos os nomes.
Gustavo
Leite Sobral